Alvejante Cerebral

Reflexões de Uma Mente Poluída

quinta-feira, abril 06, 2006

Satisfação na Áustria

O último post na verdade trataria de duas histórias, mas iria ficar muito comprido, então decidi dividir a idéia que eu tinha na cabeça em dois posts separados.
Bom, mas continuando a história de que o que me atraem em viagens são os pequenos detalhes, antes de vir pra Dinamarca passei um mês na Áustria pra visitar uns amigos. Como bom mal informado que sou, tudo o que eu sabia sobre a Áustria antes de ir para lá era que no país nasceram Mozart, Freud, Arnold Shwarzenegger e Hitler.
Admiro a música clássica, infelizmente não a entendo tanto quanto gostaria, portanto Mozart pra mim é como Leonardo da Vinci, se me perguntarem eu digo que ele foi "o" cara, mas não sei exatamente os motivos. Com Freud é a mesma coisa, meus conhecimentos sobre a psicanálise se limitam ao que aprendi na escola, fase oral, fase anal, mulheres com inveja do pênis. Sobre o Arnold Shwarzenegger sei mais coisas do que gostaria, inclusive o vi em um video dos anos 80 sambando no Rio de Janeiro ("obrigado Kenzo"), acontece que o Arnold nem se considera austríaco, ele é muito mais americano do que qualquer outra coisa. Portanto, me restou o Hitler... Eu sei que o cara foi um crápula, não vou nem entrar no mérito da questão, na Áustria e na Alemanha o povo sente vergonha por ele até hoje, entretanto, se você se desligar um pouco da realidade, romantizar um pouco a situação, dar uma de alienado mesmo, talvez vá entender o que eu senti.
Meu vôo para a Áustria teve as passagens mais baratas que eu comprei na vida, de fato custaram apenas 1 Euro, mais a taxa de embarque. Quando a esmola é demais, o santo desconfia, um vôo que é de Paris à Viena por 1 Euro tem que ter um ônus, e tinha. A Viagem foi de avião (que "apagou", "morreu o motor" quando se encaminhava para a pista), de Paris até Bratislava na Eslováquia, e o resto do percurso até Viena foi feito em um ônibus da companhia aérea, tudo incluído na mesma passagem de 1 Euro. (www.skyeurope.com).
Então tá, romantizando um pouco a situação, e digo isso porque acredito que se essa viagem fosse nos tempos nazistas não seria nada agradável. Desembarquei do avião na Eslováquia, um frio de lascar e foi minha primeira vez em um país que fora comunista, fiquei fascinado com os carros de serviço do aeroporto, eram todos Lada, achei muito legal. Saí do aeroporto, embarquei no ônibus com mais uns 5 caras e seguimos pra Viena. No caminho deu pra ver muitos prédios tipo bloco caixote, típicos do estilo durável e barato da época comunista, muitos dos prédios agora ostentavam grandes outdoors, nenhum com a cara do Marx ou do Lenin, mas Gilette, Fuji Film e Coca-Cola, ignorei esse fato e fiquei imaginando que ainda estava em um país do bloco comunista rumando para o ocidente, no minha imaginação romantizada, a Áustria um país ainda nazista.
Quando o ônibus se aproximou da fronteira, havia um pavilhão parecido com um pedágio, com luzes bem fortes que naquela noite clareavam um bom pedaço da estrada que cortava os campos gelados da região. O ônibus parou; lá fora uns soldados austríacos que pareciam não se incomodar com o frio paravam todos os carros que pretendiam cruzar a fronteira. Abriam o porta-malas, faziam o motorista descer e foi o mesmo com o ônibus que eu estava, abriram os bagageiros e quando eu estava distraido olhando pela janela e me imaginando uns 60 anos atrás, um dos soldados entrou no ônibus. Ele carregava uma metralhadora, não sei qual era, tudo o que posso dizer é que era pequena, e veio na direção dos passageiros, estávamos todos mais ou menos no meio do ônibus, mas eu era o que estava mais à frente. O soldado parou no corredor ao lado do meu assento e a sua metralhadora ficou na altura da minha cabeça, então ele disse "Paß". Mostrei o passaporte, ele pegou, abriu, olhou a página da foto, olhou pra minha cara, olhou pra foto, pra minha cara, virou a página, carimbou e me devolveu. Depois disso ele fez o mesmo com os outros passageiros, falou alguma coisa em alemão com o motorista, desceu do ônibus e seguimos viagem.
Essa foi a minha chegada na Áustria e mesmo sem saber o que viria pela frente naquele mês que passei por lá, a entrada no país já havia valido a pena.

3 Comments:

Blogger Andre Almeida said...

Olha só, que tu era meio fora eu sabia, mas gostar tanto de ser recebido por uma metralhadora superou.

hehehehe

sexta-feira, 07 abril, 2006  
Anonymous Anônimo said...

uhauhaua jóia!

terça-feira, 11 abril, 2006  
Blogger Andre Almeida said...

Mais um! Mais um! Mais um! Mais um!

domingo, 16 abril, 2006  

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